terça-feira, 30 de novembro de 2010

É TEMPO DE COLHER FRUTOS


"O TEMPO POETIZA AS PESSOAS E AS COISAS"

GILBERTO FREYRE

 

A JSB começou pequenina e relativamente despretensiosa. Um grupo de jovens cheios de esperança no olhar integrou o que hoje seria um dos mais organizados movimentos sociais do Espírito Santo. Liderados por um jovem que construiu uma carreira política repleta de competência e respeito, sua história de vida deixou marcas indeléveis no PSB capixaba. Sem dúvida alguma, tal movimento ganhou grandes proporções e os niilistas de plantão "caíram do cavalo" quando perceberam o crescimento de Carlos Lopes. De líder da JSB, passou a Vice-Prefeito de uma cidade histórica como Viana, conquistando ainda mais espaço no cenário político de então. Vários foram os sucessos da JSB liderada por Lopes, principalmente no que se refere ao Projeto Jeton, onde a repercussão do caso causou frizzes durante um bom tempo, haja vista o impacto causado pelo êxito de um grupo de jovens às prevaricações de determinados parlamentares  espíritossantenses. Após longos períodos de resistência e o enfrentamento de pesados obstáculos, acumularam-se vitórias. O Espírito Santo há de reconhecer ainda mais as habilidades e competências da JSB capixaba, longe de ser um grupo de jovens com ideologias extremistas de cunho radical, prevalece-se a serenidade e, principalmente, as estratégias de poder e resistência comedidas. É tempo de colher os frutos das árvores plantadas lá no início e a cada dia regá-las para que se prospere a fartura.

 

Parabéns Carlos, Parabéns JSB!

 

Isaias Alves


 

Carlos Lopes entre os Secretariáveis do PSB no Governo

 

 

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Avanços em tecnologia da madeira: paradigma de sustentabilidade
 
Luiz Fernando Schettino
Professor do Dpto Oceanografia e Ecologia da Universidade Federal do ES.
 

A percepção dos impactos socioambientais pela sociedade brasileira teve notável avanço a partir dos anos 80 do século passado, quando a economia passou a ocupar lugar de destaque entre as nações industrializadas.

Viu-se, então, que o custo socioambiental do modelo não sustentável era muito elevado – desmatamento acentuado de várias regiões; uso inadequado dos solos; ausência de controles eficazes nos níveis de poluição (os EIA/RIMA's se tornaram obrigatórios no Brasil a partir de 1986); e inchaço dos grandes centros urbanos, com o crescimento das favelas, que ocuparam os morros e os mangues das periferias das cidades dos estados mais industrializados do País.

A partir da "Rio 92", porém, começa a existir entendimento do que seja sustentabilidade e da complexidade do processo de transformação da sociedade moderna, que a torna cada vez mais vulnerável aos impactos socioambientais,  exigindo que práticas cotidianas sejam repensadas e novos elementos incluídos, diante da degradação ambiental.

Com isso, questões que não tinham o seu grau de relevância efetivamente percebido passaram a tê-lo, como é o caso do uso de mais  inovações tecnológicas no setor madeireiro.   

A maior eficiência trazida pela tecnologia pode ampliar os usos das madeiras, evitar desperdícios e, com isso, diminuir os desmatamentos e, de modo particular, os impactos negativos sobre algumas espécies mais demandadas, que acabam correndo o risco de extinção.

A adoção de inovações no setor madeireiro do País é de extrema importância, tendo em vista que a atividade florestal no Brasil, além dos reconhecidos aspectos ambientais, tem relevância para a esfera socioeconômica, pelo fato de o País possuir uma das maiores extensões florestais naturais do mundo e uma considerável área de plantios florestais, o que garante ao setor florestal brasileiro lugar de destaque no mercado mundial de madeiras, cuja importância tende a crescer ao longo do tempo, pelas características de solo, clima e  disponibilidade de terras no País aptas à produção de madeira.

Um dos maiores desafios nesse cenário é a conservação das florestas nativas,  de forma a evitar o desmatamento irracional, visando atender às demandas por madeiras de forma certificada, via manejo florestal sustentável nas florestas naturais e/ou por meio de plantios florestais, legalmente possíveis.

Outro aspecto importante nesse contexto é levar em conta que, no mercado madeireiro, a globalização da economia também levou ao acirramento da concorrência. Com isso, a "sobrevivência" passou a ser o objetivo maior de muitas empresas, muitas vezes em detrimento da qualidade e durabilidade dos produtos e das enormes perdas de matéria-prima pela não aplicação das melhores tecnologias.  

Permanecer no mercado a qualquer custo parece ainda ser a meta de muitos empreendedores da área florestal madeireira, em detrimento do que se perde nos aspectos socioambientais e mesmo econômicos em longo prazo, em vez de criarem condições de sustentabilidade e de fazerem evoluir tecnologicamente seus processos produtivos, possivelmente, por não terem uma visão adequada dos retornos que podem ter com investimentos em "tecnologias verdes", que quase sempre levam a menores custos, mais competitividade e, consequentemente, maiores lucros.

Inclusive pelas razões citadas é que extração, comercialização e industrialização da madeira, historicamente no País, têm mantido o ritmo predatório de suas ações e migrando sempre em busca de novas fronteiras madeireiras.

Esse processo precisa ser devidamente discutido pelas instituições que buscam construir um modelo sustentável e inteligente de desenvolvimento, o que certamente promoveria mudanças nas políticas ambiental e florestal exigidas pela sociedade, visando à reversão desse processo cultural, para que promova a sustentabilidade no setor madeireiro, e os ecossistemas sejam conservados onde estejam sendo extraídas as madeiras a serem industrializadas para a sociedade.

Discutir e viabilizar formas de avançar o uso de tecnologias para a industrialização da madeira significa criar condições para que as demandas madeireiras sejam atendidas, os desmatamentos se reduzam e a geração de empregos e renda cresça no setor florestal brasileiro.

Dessa forma, teríamos uma ilustração de como superar um grande e histórico desafio na matéria em questão: sair do discurso ambientalista puro para uma prática sustentável cotidiana da sociedade em suas necessárias atividades socioeconômicas, a se compatibilizarem com qualidade de vida e proteção dos ecossistemas – um novo paradigma, então, se consolidará: o da sustentabilidade com aproveitamento inteligente dos recursos naturais.


 

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Uma nova força à esquerda



Uma nova força à esquerda

Rodrigo Martins 8 de novembro de 2010 às 15:24h

Com seis governadores, entre eles Renato Casagrande (foto), o PSB será influente no governo de Dilma Rousseff. Por Rodrigo Martins. Foto: Bianca Pimenta/Folhapress

 
 
Com seis governadores eleitos, o PSB emerge nestas eleições como nova força. O partido sai da disputa com o segundo maior número de governos estaduais, ao lado do PMDB e atrás apenas do PSDB- (com sete). No Senado, elegeu três parlamentares, um a mais do que a composição atual. É a legenda que mais cresceu proporcionalmente na Câmara (26%), aumentou a sua bancada de 27 para 34 deputados. Em expansão, a sigla ameaça o poder de partidos como o DEM, que chegou a ter cem representantes em 1998 (com o nome PFL) e, agora, elegeu 43 deputados.
Ainda é, no Congresso, um partido médio, com a sétima maior bancada. Mas com o peso dos governos estaduais deve tornar-se cada vez mais relevante nas articulações políticas, um cenário bem diferente de oito anos atrás, quando lutava para sobreviver à extinta cláusula de barreira, que exigia das legendas ao menos 5% dos votos para garantir representação na Câmara. Para analistas, o ex-partido nanico tem chances, inclusive, de participar de um projeto de poder alternativo ao PT em 2014. Futurologia vazia? A proximidade entre os governadores Cid Gomes e Eduardo Campos, do PSB, com o senador tucano Aécio Neves parece indicar que não.
Na avaliação do senador Renato Casagrande, governador eleito pelo Espírito Santo com 82,3% dos votos, o êxito do partido deve-se a dois fatores. Primeiro, à aliança nacional em torno da candidatura de Dilma Rousseff, que permitiu ao PSB fechar pactos importantes nos estados. Segundo, à boa avaliação dos governos de Cid Gomes, reeleito no Ceará com 62,3% dos votos, e Eduardo Campos, que ficará mais quatro anos à frente de Pernambuco, após obter a votação recorde de 82,8%.
"Estas eleições mostraram que o PSB não tem medo de governar e mostrar resultados", afirma Casagrande. "Qualquer partido, para crescer, precisa consolidar seu nome nacionalmente e garantir uma boa representação na Câmara. Entendo, no entanto, que fizemos uma boa escolha ao deixar de lançar um nome na corrida presidencial e garantir apoio nos estados."
Trata-se de uma aposta bem diferente da feita pelo PSB em 2002, quando lançou a candidatura do ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, à Presidência da República, em vez de participar da coligação que elegeu Lula. O partido havia aberto as portas a Garotinho dois anos antes, quando o político abandonou o PDT após entrar em choque com Leonel Brizola. O novo quadro ficou em terceiro lugar na corrida presidencial. Ajudou a eleger a mulher, Rosinha Garotinho, ao governo do Rio, e o PSB a superar a cláusula de barreira com a eleição de 22 deputados. No ano seguinte, trocaria o PSB pelo PMDB, levando consigo 12 parlamentares.
Desde o início, importantes nomes do partido mostraram-se refratários ao ingresso de Garotinho no PSB. "De fato, ele não tinha o menor vínculo de identidade com o partido. O PSB perdeu a chance de se aliar à candidatura Lula já no primeiro turno. Se o fizesse, talvez o presidente não precisasse de um leque de alianças tão largo e hetereogêneo, que veio, no futuro, a lhe causar problemas e que impediu o Brasil de avançar mais", avalia a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP).
Um dos principais ideólogos do partido, Roberto Amaral, vice-presidente do PSB e ministro de Ciência e Tecnologia no -primeiro mandato de Lula, avalia que o episódio não deixou marcas negativas. "O PSB não apoiou Sarney, Collor, Itamar Franco nem FHC. Mesmo quando lançamos a candidatura Garotinho, apoiamos Lula no segundo turno. Nossos ideiais continuam os mesmos", afirma. De acordo com ele, um dos principais desafios do partido, agora, é garantir uma maior inserção do partido no Sudeste. "Somos muito fortes no Nordeste. As reeleições de Cid Gomes e Eduardo Campos comprovam isso. A expressiva votação de Casagrande no Espírito Santo nos dá um alento, mas a verdade é que ainda não tivemos êxito no que chamo de 'Triângulo das Bermudas', isto é, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro."
Amaral insiste que o PSB deve caminhar na articulação de um bloco de esquerda na Câmara, capaz de dar apoio, mas também pautar as políticas públicas. "Se apoiamos Lula e Dilma, é porque vimos pontos de convergência. Só que o PSB também tem um projeto." Quanto às especulações em torno de uma possível aproximação com Aécio, mostra-se reticente. "Você fala em nomes, Cid Gomes, Eduardo Campos… Eu falo em partido. Além disso, não vejo tanta diferença entre Aécio e Serra. Não vejo essa 'oposição progressista' ou menos raivosa de que tanto falam."
De acordo com o cientista político Leo-nardo Avritzer, pós-doutor pelo Massachusetts Institute Of Technology (MIT, dos Estados Unidos) e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a aposta numa nova oposição capitaneada por Aécio e líderes do PSB é bastante factível. "Se o PSDB aprender a lição das urnas, o centro do partido deverá se deslocar de São Paulo para Minas. E, dada a proximidade de Aécio com Eduardo Campos e Ciro Gomes – por tabela com o irmão Cid Gomes –, não é delírio imaginar que desse grupo surja o adversário do PT em 2014."
Cid Gomes diz ser muito cedo especular,- mas demonstra claros sinais de sintonia com Aécio. "Tenho certeza de que nascerá um novo PSDB, sob a liderança de Aécio Neves, que poderá contribuir para a formação de um pacto de desenvolvimento para o País. Acredito, inclusive, que a Dilma pode, num gesto de benevolência, garantir que a presidência do Senado fique nas mãos de Aécio. Seria uma excelente chance para viabilizar um projeto suprapartidário de desenvolvimento", afirma.
Quanto à possibilidade de um novo partido com vistas a 2014, o governador mostra-se descrente. "A atual legislação reserva pouco tempo na tevê às novas legendas", pondera. Cid Gomes ainda reclama da pouca interlocução do governo federal com os governadores. "A verdade é que o PT não priorizou o diálogo com os governadores. Espero que isso mude. Os governadores aliados podem ajudar a mobilizar a base governista no Congresso."

Rodrigo Martins

Rodrigo Martins é repórter da revista CartaCapital há quatro anos. Trabalhou como editor assistente do portal UOL e já escreveu para as revistas Foco Economia e Negócios, Sustenta!,Ensino Superior e Revista da Cultura, entre outras publicações. Em 2008 foi um dos vencedores do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.











 

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Análise: A força de Dilma

A força de Dilma é sua fraqueza e sua fraqueza é o ponto forte

Por Luciano Suassuna

 

A primeira presidenta do Brasil não fala direta e permanentemente com o Congresso e a elite, como Fernando Henrique Cardoso. Nem fala direta e permanentemente com os movimentos sociais e os cidadãos, como Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma Rousseff chega ao principal cargo da nação sem experiência eleitoral anterior, insuflada pela popularidade do seu maior cabo eleitoral, o presidente da República, e pelo governo mais bem avaliado desde a redemocratização. Mas o que as análises apressadas classificam de dependência e tibieza na realidade camufla uma situação de força da presidenta eleita.

Se o resultado das urnas não tiver sido suficiente para desfazer a enganosa imagem de que Dilma era uma marionete de Lula, não custa lembrar sua trajetória no governo. Primeiro, pegou o Ministério das Minas e Energia ainda assombrado com o apagão do governo FHC. Refez a política energética, foi amplamente contestada, mas o fato é que desde então o Brasil cresceu sem temor de racionamento. Depois, no meio da maior crise da era Lula, o Mensalão, foi escalada para substituir aquele que era tido como todo-poderoso, o deputado José Dirceu. De lá, geriu o principal programa de Lula, o PAC, com seus projetos cheios de arestas a arredondar, dentro e fora do governo: licitações de alto valor, licenças ambientais complexas, concessões em áreas sensíveis, pressão de governadores e parlamentares aliados, interesses estaduais divergentes, rivalidades empresariais.

Quem ainda acreditava nas lendas da imaturidade e inexperiência política deve ter se assustado com a agressividade e os argumentos com que Dilma se apresentou nos debates do segundo turno. Ninguém abre 12 pontos percentuais de vantagem sobre uma biografia como a de José Serra apenas pela herança do lulismo. Dilma fez a parte dela.

Mas sua vitória é fruto, sobretudo, do processo de institucionalização do País. Trata-se de algo menos afeito às manchetes justamente porque é mais distante do personalismo, do populismo, do partidarismo e do passionalismo comuns às campanhas eleitorais. Essa institucionalização é o emaranhado de apoios políticos, de ritos legais e de técnicas de comunicação que moldam as candidaturas e, depois da apuração, impõe limites aos governos. E, nesse ponto, a presidenta eleita jogou melhor que Serra.

Com Dilma, pela primeira vez o PMDB fez uma coalizão, dividindo a chapa, compondo candidaturas estaduais, repartindo tarefas e compromissos. Essa base atraiu mais partidos que a junção PSDB-DEM, o que lhe deu mais tempo de tevê e maiores palanques regionais. Se foi importante antes, ela será vital daqui para a frente. Com dois terços do Congresso, Dilma terá a base política que nenhum presidente, nem mesmo Lula, teve depois do fim do regime militar. E, por temperamento ou prática, deverá ter, com deputados e senadores, uma relação menos pessoal que a de FHC e menos tensa que a de Lula. Sem a interlocução direta com o povo e os movimentos sociais, Dilma é mais dependente do Parlamento que Lula. Sem o traquejo parlamentar de Fernando Henrique, ela precisará de intermediários para o serviço. Isso está longe de ser ruim: preserva a presidenta para os momentos decisivos, distancia a Presidência do jogo miúdo do Legislativo e deve obrigar os partidos a ter compromissos duradouros e maiorias programáticas.

Da mesma forma, o novo governo precisará de interlocutores que estabeleçam uma relação institucional em vários outros pontos sensíveis: sistema financeiro, Igreja, MST, representações empresariais, organizações sindicais. Na área externa é razoável esperar uma diminuição da chamada diplomacia presidencial, tão ao gosto de FHC e Lula, em favor de um espaço nacional, no qual os interesses dos outros países pelo Brasil e as ambições do nosso país no mundo falem mais forte que a capacidade de sedução do presidente da República. Essa necessidade de atuar de forma institucional, com interlocutores gabaritados em cada área, não deve ser entendida como fraqueza. É nessa escolha que a presidenta terá a oportunidade de mostrar o tamanho real de um governo mais técnico, num país mais relevante. É um desafio novo a que os brasileiros ainda estão se acostumando. Americanos e europeus praticam esse jogo institucional há mais tempo (não custa lembrar, por exemplo, que graças a isso um coadjuvante ator de Hollywood foi o responsável pelo fim da Guerra Fria). Assim, Dilma pode parecer fraca porque é mais institucional que seus antecessores, mas é justamente no apoio institucional que reside a força de seu governo. Esse trabalho começa oficialmente hoje e é pelo seu bom êxito que a presidenta será avaliada.